SANTIAGO E SEUS CAMINHOS

CF46.jpg
 

Apesar de terem o mesmo destino, os diversos caminhos que levam a Santiago de Compostela são marcados por peculiaridades e dificuldades específicas; cada detalhe é crucial para o trajeto ser concluído com êxito.

Deve-se levar em consideração que cada rota até o destino final tem as suas próprias particularidades, que podem ser relativas ao relevo ou ao tipo de solo que serve como pavimento para o trajeto a ser cumprido pelos peregrinos.

De acordo com o médico Luiz Henrique Antunes Lacaz, que fará em setembro o Caminho de Santiago pela quarta vez, mas pelo Caminho do Norte, estes fatores devem ser levados em conta pelos peregrinos. Todavia, essas não deverão ser as únicas preocupações de quem quiser fazer qualquer uma das rotas, independentemente do grau de dificuldade a ser encontrado.

“Múltiplos fatores podem contribuir para o desgaste, como a escolha da estação do ano, ritmo de caminhada, número e teor calórico das refeições, roupas, hidratação, número de horas de descanso, entre outros aspectos. Em âmbito clínico, cheguei muito bem em Santiago de Compostela sem ter perdido um único kg ao final do percurso”, pontua o peregrino.

Desafios pela frente

Os caminhos Francês, Português, Primitivo e do Norte são alguns dos mais conhecidos quando se fala no Caminho de Santiago e têm, respectivamente, graus e pontos variados de dificuldade para os peregrinos que quiserem percorrê-los.

O Caminho Francês, feito por Luiz Lacaz em 2015 e composto por 875 km distribuídos por 34 etapas - que estão em 207 localidades entre cidades, vilas e aldeias -, tem percurso formado por extensas áreas de planícies áridas, nas quais predominam pisos com cascalho. Além disso, há três montanhas que deverão ser transpostas pelos peregrinos: a Cordilheira dos Pirineus, que surge logo no primeiro dia, com 1.430 m de elevação; a montanha de Rabanal del Camino, que aparece após grande hiato, no 24º de peregrinação; e O Cebreiro, que tem 1.330 m de elevação e deve ser transposta no 27º dia de caminhada.

O Caminho Português, o qual Luiz Lacaz percorreu em 2016, durante o outono europeu - à mesma época da primavera no Hemisfério Sul -, contém 14 etapas distribuídas em trajeto de 240 km de distância e em 60 localidades entre aldeias, vilas e cidades. O trajeto tem predominância de paralelepípedo e terra batida na parte portuguesa até Valença, ao passo que é composto quase de modo total por cascalhos a partir de Tuí, já no território espanhol. “Saindo da cidade do Porto, o caminho é predominantemente plano com poucas elevações, no qual a serra da Lambuja com 450 m de altitude, se destaca”, pontua Lacaz.

Percorrido por Lacaz em 2017, o Caminho Primitivo, conhecido também por ser a rota mais antiga de peregrinação sobre a qual se tem notícia, tem distância total de 340 km, que abrangem 106 localidades entre cidades, vilas e aldeias e tem a cidade espanhola de Oviedo como ponto de partida. O percurso tem predominância de topografia elevada, no qual há diversas montanhas com até 1.400 m de altitude, em especial no trecho que compreende de Campiello a Berducedo, onde está situada a desafiadora e temível Ruta do los Hospitales. Todavia, o desgaste físico imposto pelo trajeto é recompensado quando o peregrino chega às planícies na região da Galícia.

Além do solo

Se os desafios geográficos e topográficos são significativos nos caminhos, demais fatores são preponderantes para atenuá-los ou acentuá-los com base na preparação dos peregrinos. Foi exatamente o que aconteceu com Luiz no Caminho Francês. Apesar de a preocupação com as altas temperaturas ter sido contemplada por meio de cuidados com a hidratação e alimentação, assim como o uso de roupas adequadas para a peregrinação, outro fator se tornou problemático para ele.

“Com mais de 500 km percorridos, eu impus um ritmo de caminhada elevado quando entrei na área urbana da cidade de León. Isso acabou por me causar uma inflamação na inserção do tibial anterior da perna esquerda, o que me obrigou a reduzir o ritmo e a adotar algumas medidas médicas ao longo dos 300 km restantes para concluir o trajeto até Santiago de Compostela”, descreve o médico.

Apesar do susto e da complicação física momentânea, a obstinação em chegar até Santiago de Compostela foi tamanha a ponto de concluir o caminho na primeira tentativa.

O que esperar?

Em setembro de 2018, Lacaz fará o Caminho do Norte, cujas características geográficas são diversificadas: os primeiros 200 km deverão ser percorridos em terrenos acidentados, nos quais há grandes desfiladeiros à beira do mar Cantábrico, enquanto o restante do trajeto deverá ter presença predominante de planícies.

“A expectativa [para a peregrinação] é cortar quatro províncias espanholas dentro do trajeto de 850 km em 36 dias”, relata o médico, sobre o tempo estimado para concluir o Caminho do Norte".

Por Amauri Eugênio Jr. / Foto: Arquivo pessoal