Os Caminhos que me levaram a Santiago de Compostela.
Em 1995 montei um roteiro de viagem para uma visita de dez dias ao Serviço de Endoscopia Digestiva do Professor Claude Leguory na Clinique de l’Alma em Paris tendo Madri como porta de entrada na Europa. O restante do percurso seria feito de trem cruzando os Pirineus Orientais com uma parada em Cahors, pequena cidade ao sudoeste da França, capital do Departamento do Lot, situada às margens do Rio Lot e conhecida pelos dois mil anos na produção e comercialização de vinhos da uva Malbec.
Cresci ouvindo histórias de um antepassado que teria nascido em Cahors e seria o responsável pelo ramo francês de minha família no Brasil. Antoine Rouffies Lacaze, marceneiro e militar aposentado, desembarcou no Rio de Janeiro proveniente de Bordeaux no ano de 1819 com mulher e dois filhos. Dedicou-se a arte da marcenaria atendendo seus clientes na oficina do Largo da Carioca até o ano de 1823 quando se mudou para a Rua do Ouvidor, 60.
Foram poucas as informações transmitidas através das gerações do período que residiu no Brasil. A morte em Cantagalo de seu primogênito Antoine Lacaze com apenas 29 anos de idade deixando viúva a jovem suíça Agatha Jeker e três filhos muito pequenos, reduziu o legado de valores de sua ascendência francesa.
Conta-se que movido pela emoção do amor à pátria, Antoine Rouffies Lacaze retornou em definitivo à França com a mulher e o filho nascido no Rio de Janeiro entre os anos de 1829 e 1831.
Como primeiro descendente a visitar Cahors após cinco gerações não contava com os acontecimentos que transformaram uma visita meramente turística em um marco para o início de um entretenimento extremamente interessante que iria dominar minhas poucas horas de lazer.
A escolha de um local para o almoço nos levou a um restaurante as margens do Rio Lot de propriedade de Jacques e Rosy Mazet com o sugestivo nome de Amazônia Brasil. Como reza a boa tradição francesa, os pratos desta exótica Cuisine Brasilo – Quercynole se sucediam com esmero na apresentação e paladar dentro de uma rica atmosfera tropical.
Filho de um ex-prefeito da cidade com um fluente português, M. Mazet se interessou pela história da minha vinda a sua cidade e sugeriu que fossemos ao prédio da Prefeitura de Cahors na manhã do dia seguinte.
Da visita ao Archíves Municípales, local onde são guardados os microfilmes com os documentos antigos das igrejas, conheci o M. Jacques Marquès, genealogista local que seria por mais de quinze anos responsável pelas minhas pesquisas no Departamento do Lot. Desta fonte recebi centenas de documentos transcritos sendo muitos remontam ao século XVII.
De posse dos levantamentos preliminares segui para Paris com a missão de efetuar meu primeiro trabalho de pesquisa de campo!
No “Service historique de La Défense” (SHD) e “centre d'archives du ministère de la Défense et des forces armées françaises” instalado nas dependências do Château de Vincennes, dirigi-me ao balcão de informações do segundo andar com os dados pessoais do meu pentavô. Não mais de dez minutos se passaram e lá estava a funcionária de volta com quatro grandes folhas em perfeito estado de conservação. Iniciava a minha nova atividade com a descoberta de nada menos que a Folha de Serviço Militar de um personagem carismático da historiografia de minha Família!
Mais do que um documento de importância particular da vida de meu antepassado, tinha nas mãos uma relíquia com um significado marcante de um período da história da França.
A máquina de recrutamento militar de Bonaparte calcada em métodos revolucionários, aperfeiçoada por anos de adaptações e imposta com o uso de métodos coercitivos eficazes, operava com o máximo de eficiência entre 1811 e 1813. Por sua exigência, o Senado decretou aos 12 de janeiro de 1812 a criação de vinte e dois novos Regimentos de Infantaria que receberiam os números de 135º a 156º.
Eram medidas preliminares iniciadas em 1810 que tinham por objetivo preparar o país para uma guerra “particular” do Exército de Napoleão contra o Exército de Alexandre I, Imperador da Rússia. Napoleão esperava destruí-lo em alguma batalha importante no interior da Rússia já que nenhum de seus planos objetivava um avanço profundo naquele país.
A convocação de jovens franceses se fazia aos milhares e atingiam a centenas de famílias. Muitos jovens comemoravam o recrutamento, outros lamentavam a "sorte", e ainda haviam os entusiastas bonapartistas que experimentavam um sentimento de frustração por não preencherem o perfil esperado.
Antoine Rouffies Lacaze, na época com 34 anos, era um notório bonapartista! Apresentou-se por conta e risco em Paris para cumprir convocação assumida de um conscrito de Limonges e foi elevado a patente de "Fourrier de Voitigeurs" (sub-oficial) passando a integrar o 141º Regimento de Infantaria de Linha pertencente ao IIIº Corpo do Exército Francês sob o comando do lendário Marechal Ney.
Em 1812 encontrava-se aquartelado em Paris. Acompanhou os preparativos das tropas francesas para a invasão da Rússia. Assistiu o retorno dos compatriotas que sobreviveram da derrocada de Moscou. Acompanhou os esforços da França para reconstruir o seu Exército e fez parte do contingente militar deslocado na primavera de 1813 até à Alemanha para manter o território do Império.
Foi aos 2 de maio de 1813 que a Grande Armée, sob o comando do Imperador Napoleão Bonaparte I, enfrentou a primeira de três batalhas contra o exército Prusso-Russo de Wittgenstein e Blücher ao alcançar a planície próxima das aldeias alemãs de Rahna, Kaja, Großgörschen e Kleingörschen à 14 km de Lützen.
As publicações consultadas não traziam pormenores deste enfrentamento que em apenas um dia de luta vitimou 18.000 franceses no campo de batalha. Foi em um sebo em Nova York ao preço de 950 dólares onde encontrei um exemplar do livro “La Manoeuvre de LÜTZEN 1813” escrito pelo Coronel Lanrezac, Professor da L´École Supérieure de Guerre, editado em Paris no ano de 1904, única publicação a descrever as movimentações das tropas durante a vitoriosa Batalha de Lutzen.
O IIIº Corpo do Exército Francês, relata Lanrezac, sob o comando do Marechal Ney foi surpreendido pelo avanço do exército aliado e sofreu muitos danos no início da luta. Napoleão se apressou em enviar todas as unidades disponíveis em ajuda a Ney entre elas o VI Corpo de Marmont e o V Corpo de Lauriston desde Leipzig. Em plena batalha, o General Drouot reuniu uma grande bateria de 80 canhões e os dirigiu ao ataque no centro dos aliados. Os regimentos de infantaria aliados foram destruídos em sua totalidade pela maciça artilharia francesa e os aliados retiraram-se do campo de batalha.
Ferido em combate pelo inimigo, Antoine Rouffies Lacaze permaneceu internado por três meses no Hospital Militar da cidade alemã de Landau. As sequelas deixadas pelos ferimentos de guerra o levaram a aposentadoria. Retornou a Cahors distante da derrota de seus compatriotas na Batalha de Leipzig, da fuga de Napoleão para Paris, a abdicação do trono e o exílio na Ilha de Elba!
Retornei ao Brasil empolgado com as novidades!
A ideia de desenvolver uma pesquisa genealógica ganhava força. O trabalho deveria ser o mais amplo possível e teria por objetivo esclarecer as motivações que trouxeram ao Brasil quatro europeus de diferentes nacionalidades que contribuíram para a formação da base da minha Família. Para isto, seria necessário iniciar a difícil tarefa de selecionar e contratar uma assessoria capaz de me municiar de documentos extraídos de arquivos em cidades no Brasil, França, Suíça, Portugal e Itália.
Como a chegada ao Brasil de três desses personagens ocorreu entre os anos de 1808 e 1819, selecionei um grande número de publicações sobre dois momentos empolgantes da história: o Período Napoleônico e o Período Joanino. O quarto e último ramo ficaria para adiante, uma vez que a chegada de meu bisavô italiano Francesco Pappaterra à Fortaleza aconteceu na segunda metade do século XIX.
Com uma bem planejada estratégia de coleta de dados em andamento, parti de volta a Europa no ano seguinte para percorrer mais de 600 km de carro desde Zurique passando pelas cidades suíças de Solothurn, Erschwil e Basiléia até chegar à pequena grande Lützen. Encontrei no centro desta cidade alemã o Museum in Schloss Lützen dedicado às duas batalhas que levam o nome desta localidade: a de 1632 durante a Guerra dos 30 anos e a de 1813 que contou com a participação de Antoine Rouffies Lacaze. A exposição de duas grandes maquetes, cada uma com mais de 5.000 miniaturas de soldados de chumbo ocupando todo um andar nos dá uma ideia da importância que os alemães dedicam na preservação destas histórias passadas nestas terras. Recolhi o maior número de publicações no Museu e nas livrarias da cidade para serem traduzidas e delas extrair as passagens de interesse para a construção do meu personagem.
Os trabalhos de campo continuariam algumas semanas depois quando cheguei a Portugal para conhecer Oeiras, distrito de Lisboa, no estuário do Rio Tejo, terra do meu trisavô, José Francisco da Silva! Em viagem contínua, desembarquei no aeroporto de Nápoles. Com a imagem do Vesúvio me acompanhando por um longo trecho da autoestrada cheguei depois de quatro horas a Maratea, Comarca de Lagonegro, região de Basilicata, província de Potenza, na costa banhada pelo Mar Tirreno, terra do meu bisavô, Francesco Pappaterra!
Em Oeiras, tivemos dificuldades contornáveis na coleta de documentos de interesse nos arquivos locais e naqueles transferidos para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, dentre elas o fato de no ano de 1785, terem nascido nesta localidade 17 crianças batizadas com o nome de José Francisco! Uma reverência que as famílias prestavam ao Rei D. José I (José Francisco Antonio Inácio Norberto Agostinho)!
A pesquisa na Prefeitura da cidade italiana ultrapassou as expectativas permitindo avançar duas gerações passadas e mesmo conhecer parentes distantes ainda moradores na região.
Vinte e um anos se passaram e sem incorrer em exageros, não houve arquivo correlacionado a estas histórias familiares que não fosse explorado à exaustão na Europa e no Brasil! As três vertentes iniciais, francesa, suíça e portuguesa, tiveram as motivações para a migração esclarecidas com uma boa riqueza de detalhes e estão apresentadas em um programa especifico de computador. A vertente italiana não está completamente esclarecida. Continuo em busca de novos elementos para consubstanciar a atmosfera vivida por um jovem filho de um tropeiro, inteligente, com gosto apurado, que deixou a Itália com pouco mais de 20 anos de idade e se lançou mundo afora até chegar pelo norte do Brasil e acabar se estabelecendo na cidade paulista de Guaratinguetá.
Em paralelo, foi possível construir uma árvore genealógica com 1178 personalidades!
No retorno a Cahors em 2013, a procura de uma nova pista para acrescentar aos trabalhos genealógicos, adotei como base pela segunda vez o Chateau de Mercuès, castelo do século XIII que por sete séculos foi residência de Condes e dos Bispos de Cahors. Distantes cinco quilômetros da cidade, esta construção que domina o vale do Rio Lot foi transformada em hotel e conserva a produção de vinhos de uvas Malbec mantidos em toneis de carvalho nos subterrâneos do castelo. Um local especial!
Minha intuição de caçador de relíquias familiares não apontava uma direção para onde pudesse levar a novas descobertas naquela região!
O tema parecia ter se esgotado...
Na esperança de contar com o imponderável, estacionei em frente à estação ferroviária e pus-me a andar pela cidade...
Descendo a Boulevard Gambetta, saí na altura da Rue Portail au Vent, parei em frente ao local onde morou meu antepassado, prestei uma breve reverência e retornei ao eixo principal. Adiante, percorri as estreitas ruas medievais e fui de encontro a Ponte Valentré. Também conhecida como Ponte do Diabo, esta ponte medieval fortificada, como está descrito na placa turística, tem uma lenda em torno de sua construção que ainda me diverte a imaginar a cena. Conta-se que desesperado devido à lentidão dos trabalhos de construção da ponte, o arquiteto solicita a ajuda do diabo para ajudá-lo a finalizar a obra, em troca disso ele lhe entregaria sua alma. Mas, quando a ponte está quase terminada, o arquiteto prega uma peça no maligno convocando-o novamente e ordenando-lhe que levasse água ao topo da torre central, com a ajuda de uma peneira, com o objetivo de estragar a argamassa que permitia colocar a última pedra da ponte. Não tendo conseguido fazer isso, apesar de seus esforços, o diabo não pôde cumprir seu compromisso de concluir a obra e, assim, consequentemente, o arquiteto salvou sua alma. Furioso, o diabo volta a cada noite para arrancar a última pedra da ponte a qual os pedreiros tinham assentado no dia anterior.
Elevada a Patrimônio Mundial pela UNESCO desde 1998, a ponte que levou setenta anos para ser construída durante o século XIV é hoje símbolo da cidade de Cahors!
Dali, segui para a Catedral de Saint Étienne!
A fachada do século XI edificada dentro do austero e pesado estilo Românico recebeu modificações ao longo dos séculos. Com o advento da arquitetura gótica que dominou as construções de muitas catedrais europeias no século XIII, os responsáveis trataram de providenciar adequações na fachada que tornaram a imagem da Catedral de Cahors uma obra desprovida da pureza de cada um destes estilos arquitetônicos. Se a fachada parece estranha, o seu interior é inspirador!
É de interesse conhecer que a Igreja Católica teve sua sede transferida de Roma para Avinhão na França dentro do período de 1309 e 1377 elegendo sete Papas franceses. Em 1316, o filho de um sapateiro de Cahors nascido no ano de 1244, Jacques d´Euse, que estudou Medicina em Montpellier e Direito em Paris, foi eleito Papa João XXII cumprindo um papado de 18 anos!
Dúzias de vezes entrei nesta Catedral! Esta, a primeira após o completo trabalho de restauração. Um trabalho de muita qualidade que enriqueceu sobremaneira as obras dos artistas medievais!
O que aconteceria comigo nesta visita em particular, penso que foi resultado da experiência adquirida na identificação de alguns “clicks” de acesso às portas do passado nas pesquisas das três primeiras vertentes migratórias, como:
- o levantamento de todos os documentos da Família Rouffies, Rouffies Lacaze e Lacaze registrados nos livros das igrejas do Departamento do Lot. A heroica trajetória militar de Antoine Rouffies Lacaze. O reconhecimento de Cabrerets como sua cidade natal, de Cahors como cidade natal de seu filho mais velho Antoine Lacaze e Saint Cirq Lapopie como a cidade dos meus mais longínquos antepassados franceses.
- a descoberta da certidão de batismo da tataravó suíça Agatha Jeker no bojo do Processo de Habilitação Matrimonial guardado no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. Com o reconhecimento do nome dos seus pais e de Erschwil como sua cidade natal, foi possível identificar um erro histórico cometido pelas autoridades portuguesas. A lista de passageiros do navio a vela Heureux Voyage que aportou na Baia da Guanabara proveniente do Porto de Den Helder em Amsterdam na Holanda no dia 17 de dezembro de 1819, trazia o nome da pequena Agatha de apenas nove anos de idade grafado como “Barbe Jeker”. A correção contou com a participação do pesquisador e escritor suíço Simon Lutz que cita este fato pontualmente em seu livro “ERSCHWIL” publicado em 2012, permitindo resgatar minha tataravó de volta ao enredo da imigração suíça de 1819 para a cidade fluminense de Nova Friburgo!
- a identificação do nome do trisavô Coronel de Engenheiros José Francisco da Silva na lista de formandos da primeira turma da Academia Real Militar, instituição criada por D. João VI em 1810. Com a descoberta dos dados biográficos no Arquivo Histórico do Exército Brasileiro relacionando suas conquistas e condecorações permitiu a reconstrução de seus passos desde a saída de Oeiras até sua aposentadoria na Sesmaria das Águas Quentes adquirida nas cercanias de Cantagalo.
Acabara de fazer algumas fotos do claustro de estilo gótico construído nos fundos da catedral e retornava pela lateral do altar quando percebi uma movimentação discreta de pessoas entrando na Catedral. Caminhavam calmamente carregando enormes mochilas em direção a uma mesa redonda do lado oposto da porta de entrada lateral de acesso a nave. Conversavam alguns minutos com dois funcionários e se retiravam sem manifestar um gesto corporal significativo de respeito ou de admiração pela beleza do interior da Catedral.
Percorri o corredor central e fui de encontro ao funcionário eclesiástico que me explicaria que Cahors, desde a Idade Média, estava intimamente ligada a mais antiga rota de peregrinação para Saint Jacques de Compostela: a Via Podiensis!
Conta a tradição que o Apóstolo Tiago (Saint Jacques em francês, Saint James em inglês, Yacob em hebraico e Santiago por influência espanhola) foi pregar os ensinamentos de Cristo na Espanha, região da Galícia, logo após a morte de Jesus. No ano 44 d.C. , voltou a Jerusalém e foi decapitado pelo Rei Herodes.
Conta a lenda que dois de seus discípulos recolheram os restos mortais e os transportou de barco de volta a Espanha. Após sete dias a embarcação chegou a Iria Flávia, então capital da Galícia, onde foi sepultado. O cemitério ficou abandonado por nove séculos, até que um eremita de nome Pelayo avistou uma chuva de estrelas e, guiado pelas luzes, encontrou o tumulo do Apóstolo. O local ficou conhecido como Compostela, do latim, Campus Stellae (“campo da estrela”).
A notícia correu o mundo e uma legião de peregrinos partindo dos mais longínquos recantos da Europa procuravam visitar o túmulo do Apóstolo Tiago Maior!
Historicamente, a primeira rota francesa de peregrinação até a suposta tumba do apóstolo ocorreu no ano 950 quando o Bispo Godescalc arregimentou um grupo de cristãos e partiu da cidade francesa de Le Puy-en-Velay, passando por Cahors, chegando até Roncesvalles nos Pirenéus Ocidentais e de lá até Santiago de Compostela.
Uma forte emoção me dominou quando percebi que o tema, até então totalmente desconhecido, tinha uma imensa importância histórica e cultural!
Mas qual o significado desta descoberta e a importância desta percepção nas minhas pesquisas genealógicas? Qual a importância das histórias e lendas do Cristianismo na Idade Média com a vertente francesa de minhas pesquisas? Que descoberta poderia extrair nesta linha de trabalho?
Nunca duvidei destas percepções e esta me pareceu expressiva suficiente para uma boa investida!
Naquela tarde, quando sai da Catedral de Saint Étienne de Cahors, estava decidido: ia fazer o CAMINHO DE SAINT JACQUES DE COMPOSTELA!!
The paths that take me to the Way of Saint James
In 1995, I came up with a travel itinerary for a ten-day visit to the Digestive Endoscopy Service from Profesor Claude Leguory at Clinique de l’Alma, in Paris. I used Madrid as my gateway to Europe.
The rest of my trip was to be done by train, crossing the Eastern Pyrenees and stopping in Cahors, a small town in the Southwest of France, capital of Lot Department. The city is located along the margins of River Lot and is known for its 2000 years tradition in Malbec grapes cultivation and in red wine production and commercialization.
I grew up listening to stories of an ancestor that was born in Cahors and would be responsible for the French branch of my Family tree in Brazil: Antoine Rouffies Lacaze, a carpenter and retired soldier who landed in Rio de Janeiro from Bordeaux in 1819 with his wife and two children.
He dedicated himself to carpentry in Largo da Carioca’s workshop up to 1823, when he moved to Ouvidor Street, 60.
There was little information passed down by generations about the period he lived in Brazil. The death of his firstborn child, Antoine Lacaze, with only 29 years old in Cantagalo left the widow Agatha Jeker – a Swiss Young lady – and three very young children and also reduced the legacy of values of his French genealogy.
Antoine is said to have returned to France for good between 1829 and 1831 with his wife and son, born in Rio de Janeiro, driven by his emotions regarding his patriotism.
Being the first descendant to visit Cahors after five generations, he wasn’t expecting the events that turned a touristic visit into a landmark for the beginning of a new extremely interesting hobby that would, later on, take over my scarce free time.
The choice of a place for lunch took us to a restaurant suggestively called Amazônia Brasil, owned by Jacques and Rosy Mazet on the margins of Lot River. As a French tradition, the dishes of this exotic “Cuisine Basilo Quercynole” were prepared with particular diligence in terms of presentation and taste, all in a rich tropical atmosphere.
Son of the town’s former mayor and fluent in Portuguese, M. Mazet took an interest in the story behind my visit and suggested we went to Cahors City Hall in the following morning.
From the visit to Archíves Municípales, where microforms with old documents from churches are kept, I met M. Jacques Marquès, a local genealogist that would be in charge of my research in Lot Department for over fifteen years. I have received hundreds of documents from him, many from the 17th century.
Having preliminary surveys in hand, I traveled to Paris with the mission of carrying out my first field trip!
At “Service historique de La Défense” (SHD) and the “centre d'archives du ministère de la Défense et des forces armées françaises” in Château de Vincennes facilities, I went to the information desk on the second floor in possession of personal data of my grandfather from five generations back. After no more than ten minutes, the person in charge was back with four big sheets of paper in perfect state. That is when my new activity was about to begin: the discovery of the Military Service Record of a charismatic character from my family’s history.
More than a document of particular importance in my ancestor’s life, I had a relic in my hands - something which was remarkably meaningful in a certain period in the history of France.
Bonaparte’s military recruiting machine was based on revolutionary methods. It was improved over the years and was imposed via effective compelling methods, operating with great efficiency between 1811 and 1813. Due to his demand, the Senate decreed the creation of twenty-two new Infantry Regiments on January 12th, 1812; which received numbers from 135º to 156º.
These were preliminary measures started in 1810 that aimed at preparing the country for a “private” war between Napoleon’s army against Alexander I’s army, the Russian Emperor. Napoleon expected to destroy him in an important battle in the countryside of Russia, since none of his plans involved advancing widely in that country.
The youth call brought thousands and reached hundreds of families. Many of them celebrated their recruiting, while others lamented their “luck”.
There were also Bonapartist enthusiasts, who experienced a frustration feeling for not fitting the profile specified for the conscripts.
Antoine Rouffies Lacaze, 34 years old at the time, was a remarkable Bonapartist!
He presented himself voluntarily to replace a conscript from Limonges and was taken to the "Fourrier de Voitigeurs" non-commissioned officer, joining then, the 141º Frontline Infantry Regiment of the 3rd French Army Corps under the command of the legendary Marshal Ney.
In 1812 he was billeted in Paris. He followed the French troops battle preparation to invade Russia. He watched the return of his compatriots after the debacle in Moscow and the French efforts to rebuild its army. He was part of the contingent displaced to Germany in the Spring of 1813, so as to keep the Empire territory.
On May 2nd, 2913, the Grande Armée - under Napoleon Bonaparte - fought the first of three battles against the Prussian-Russian army under Wittgenstein and Blücher. The French reached the lowlands near the German villages of Rahna, Kaja, Großgörschen and Kleingörschen, 14 km from Lützen.
The publications consulted did not bring details on this confrontation that victimized 18.000 French in the battlefield.
It was in a secondhand bookshop in New York that I found a copy of the book “La Manoeuvre de LÜTZEN 1813”, by Colonel Lanrezac, Professor at “L´École Supérieure de Guerre”, edited in Paris, in 1904. I bought it for 950 dollars as it is the only publication describing the movement of the troops during the victorious Battle of Lutzen.
The 3rd Army Corps under Marshal Ney was caught by surprise with the advance of the allied army and was damaged right at the beginning of the combat. Napoleon rushed to send all the available units to help Ney, among them, the 6th Corps of Mormont and the 5th Corps of Lauriston and Leipzig. During the battle, General Drouot brought together a battery of 80 cannons and controlled them to the center of the allies.
The allies infantry regiments were completely destroyed by the massive French artillery and they withdrew themselves from the battlefield.
Injured in combat, Antoine Rouffies Lacaze was hospitalized for three months at Landau’s Military Hospital in Germany. The after-effects caused by his war injuries led him to retire. He went back to Cahors, far from his fellows’ defeat in the Battle of Leipzig, Napoleon’s retreat to Paris, the abdication of the throne and his exile to Island Elba.
I came back to Brazil excited about the news!
The idea of developing a genealogic research built up. The work should be as comprehensive as possible and would aim at clarifying the reasons that brought four Europeans from different nationalities to Brazil. These people who would later contribute to the constitution of my family roots. To do so, I had to start the difficult task of selecting and hiring an advisory team able to provide me with documents from cities in Brazil, France, Switzerland and Italy.
As three of these people arrived in Brazil between 1808 and 1819, I selected a great number of publications from two exciting periods in History: The Napoleonic and Joanino period (when Brazil was governed by John I and III).
The fourth and last person would be studied later, since my Italian great-grandfather Francesco Pappaterra arrived in Fortaleza only in the second half of the 19th century.
With an ongoing and well-planned strategy to collect information, I traveled back to Europe in the following year to drive over 600km by car from Zurich – going past the Swiss cities of Solothurn, Erschwil and Baselv - up to the small town of Lutzen. In this German town city center, I found the “Schloss Lützen Museum”, a place dedicated to the two battles that gave the location its name: the one in 1632, during the 30 Years’ war and the one in 1813, in which Antoine Rouffies Lacaze took part. The exhibit of two big models, each with over 5.000 tin soldier miniatures occupying a whole floor, reflects the importance German people give to the preservation of the history of their lands. I collected a substantial amount of publications in the museum and bookshops around the town to be translated and then be able to extract the excerpts that would be interesting to shape my character’s life.
The field work was to continue for a few weeks later, when I arrived in Portugal to visit Oeiras, in Lisbon, at the estuary of Tagus River, land of my great-great grandfather, José Francisco da Silva! Right after that, I landed in Naples. Having the Vesuvius as my landscape for a long part of the road, after four hours I arrived in Maratea, Lagonegro, a town and comune in Basilicata, in the province of Potenza. The region is bordered by the Tyrrhenian Sea, land of my great-grandfather, Francesco Pappaterra!
In Oeiras we had some difficulties collecting documents of our interest in the local files and the ones transferred to The National Archive of Torre do Tombo. One of them was because, in 1785, 17 children named José Francisco were born in this location! That’s how families would show reverence to King Joseph I (José Francisco Antonio Inácio Norberto Agostinho).
The research in the Italian town City Hall has exceeded my expectations since I was able to find information about two past generations and even meet some distant relatives that still lived in the surroundings.
Twenty-one years have gone by and, quite honestly, there was no file connected to this family history that wasn’t examined exhaustively and thoroughly both in Europe and Brazil. The three initial branches: French, Swiss and Portuguese had the reason for their immigration cleared out in great detail and are presented in a specific computer software.
The Italian branch is not completely clear, though. I’m still searching for new elements to consolidate the atmosphere lived by the young son of a herdsman, a smart boy with fine taste who left Italy in his twenties and went abroad until he arrived in the North of Brazil and settled down in the city of Guaratinguetá, in São Paulo.
In the meantime, a genealogical tree was built with over 1178 people!
In 2013, I went back to Cahors in order to find a new thread in my genealogical net. I visited the Chateau de Mercuès – a XVIII century castle that served as the home of the Counts and Bishops of Cahors for seven centuries - for the second time.
Located five kilometers away from the city, this construction - which dominates Lot River valley - was turned into a hotel and maintains the Malbec wine production. The wine is kept in oak barrels under the castle. Such a special place!
My intuition for family roots did not lead me anywhere where I could discover more things in that place.
The subject seemed to have drained.
Hoping to find the unknown, I parked my car in front of the train station and started wandering around the city.
As I walked down Gambetta Boulevard, I found Rue Portail au Vent, stopped in front of the place where my ancestor lived, revered him briefly and went back to the main part of the street. Further ahead, I went through the narrow medieval streets and saw Valentré Bridge.
Also known as the Devil’s Bridge, it has a legend regarding its construction that amuses me. It’s said that due to the slow progress in the construction of the bridge, the desperate architect sought for the Devil’s help to finish it. In exchange, he would have to give the Devil his soul. When the bridge was nearly finished, the architect played a trick on him. He called the Devil and told him to take water to the top of the central tower using a sieve, aiming at ruining the mortar that would allow him to put the last stone into the bridge. Being unable to do so, the Devil couldn’t finish his work and therefore the architect saved his soul. In revenge, the Devil removes a stone from the bridge every night, so that bricklayers have to replace it every day.
Being acknowledged as UNESCO’s World Heritage in 1998, the bridge took seventy years to be built in the XIV Century and today is the symbol of Cahors.
From there, I moved on to Saint Étienne Cathedral!
The XI Century facade, built according to the austere and heavy Romantic style was modified over the centuries. With the arrival of Gothic architecture, which dominated constructions of many European cathedrals in the XVIII century, adaptations were made in the facade, which turned Cahors Cathedral into a piece without the essential purity that featured each of these architectural styles. If on the one hand, the facade looks odd, on the other hand its interior is inspiring!
The Catholic Church had its headquarters transferred from Rome to Avignon, in France, from 1309 to 1377, electing seven French Popes. In 1316, a shoemaker’s son from Cahors, Jacques d´Euse, who was born in 1244 and studied Medicine in Montpellier and Law in Paris. He was elected Pope John XXII and completed a papacy of 18 years!
I had entered that Cathedral a dozen times! It was the first to have its restoration complete, a highly qualified work that has extraordinarily enriched masterpieces of medieval artists!
To my mind, what was about to happen to me on this particular visit was the result of the experience I gained in identifying insights regarding past evidence from the research of the three first migratory directions, such as:
- the survey carried out to find all the documents from the Family Rouffies, Rouffies Lacaze and Lacaze recorded on the church books of Lot. Antoine Rouffies Lacaze’s heroic military journey. The findings pointing Caberets as his hometown, Cahors as his eldest’s son - Antoine Lacaze - hometown, and Saint Cirq Lapopie as my distant French ancestor’s home.
- the discovery of my great-great-great Swiss grandmother – Agatha Jeker’s - baptism certificate in the Marriage Qualification process found in the files of the Metropolitan Curia of Rio de Janeiro. As her parents’ names were recognized and her hometown was defined as Erschwil, it was possible to identify a historical mistake made by Portuguese authorities. On the passenger’s list of the ship called Heureux Voyage, which docked in Baia da Guanabara coming from Port of Den Helder in Amsterdam, Netherlands, on December 17th, 1819, little Agatha’s name (a nine-year-old at the time) was written as “Barbe Jeker”. The correction counted on the collaboration of Simon Lutz, a Swiss researcher and writer who mentions this fact on his book ¨ERSCHWIL¨- published in 2012. That allowed me to rescue my great-great grandmother back to her Swiss immigration history in Nova Friburgo, Rio de Janeiro, 1819.
- the way my great-great grandfather’s name José Francisco da Silva, Colonel Engineer, was found on the list of graduate students from the first group of the Royal Military Academy, created in 1810 by John VI. His biographic data was discovered in the Historial Archive of the Brazilian Army. Considering that his achievements and decorations were listed, we were able to trace his steps back from the time he left Oeiras to his retirement in Sesmaria das Águas Quentes, in Cantagalo surroundings.
I had only taken a few pictures from the Gothic cloister built at the back of the cathedral and was returning by walking on the side paths when I noticed some people discreetly entering it. They carried huge backpacks and walked calmly towards a round table on the opposite side of the entrance door, on the side that let to the nave. They talked to two workers for some minutes and left without showing any evident gesture of respect or admiration for the interior beauty of the Cathedral.
I walked down the center aisle and met an ecclesiastical worker who explained that since Middle Ages Cahors has been closely connected to the most ancient pilgrimage route to Saint Jacques de Compostela: Via Podiensis!
Tradition has it that the apostle James (Saint Jacques in French, Yacob in Hebrew and Santiago in Spanish) went out to preach the words of Christ in Galicia, Spain, right after His death. In 44 d.C. , he went back to Jerusalem and got beheaded by King Herodes.
According to the legend, two of his disciples got his mortal remains and shipped them back to Spain. After seven days, the ship docked in Iria Flavia, the capital of Galicia back then, where he was buried.
The cemetery had been abandoned for nice centuries when a hermit called Pelayo saw a meteor shower and was guided by the lights until the apostle’s grave. The place then got known as Compostela, from the Latin Campus Stellae (field of stars).
The news traveled around the globe and a legion of pilgrims started leaving the furthest corners of Europe to visit the grave of the great apostle James!
Historically, the first French pilgrimage route up to his grave happened in 950. That is when Bishop Godescalc gathered a Christian group and left the French city of Le-Puy-em-Valay, walking past Cahors up to Roncesvalles, in the Western Pyrenees, heading to the way of Saint James.
I was rather thrilled when I realized that the subject that had been unknown to me, up to that moment, had a huge historical and cultural importance!
However, what does that finding mean and why is this perception important in my genealogical research? Why are the Middle-Age Christian stories and legends meaningful to the French branch of my research? What kind of finding could I come across from this line of thought? I never doubted these perceptions and this one seemed expressive enough, thus, worth an attempt!
When I left Saint Étienne de Cahors Cathedral in that afternoon, I had made up my mind: I would take the route to the Way of St. James.